sábado, 17 de fevereiro de 2018

O poder semântico de transformar as sinalizações de rua

Uma observação que venho fazendo dia a dia, sobretudo porque o Rio de Janeiro virou um canteiro de obras, é a questão da sinalização onde os profissionais trabalham. Normalmente, em outras épocas; quando a palavra "pista" não possuía uma significação literal (Ex.: Beltrano está na pista. - sentido de estar "no meio da rua, do caminho etc..)Era muito comum visualizar nas ruas placas informativas contendo "ATENÇÃO! HOMENS NA PISTA". A expressão "estar na pista" foi uma verdadeira avalanche na linguagem de vários grupos sociais cariocas em virtude da expressão cultural nas mensagens do Funk, pois que até mesmo os falantes que exploram mais habilidosamente os níveis de linguagem também compraram a ideia. Se essa influência é má ou não, sinceramente, ainda não vi problemas para o nosso lindo vocabulário "amalandrado", muito menos para nossas "expressões descoladas". O que vale mesmo é a preocupação do professor em mostrar essa dinâmica semântica ao aluno e que por fim resvala no modelo de mundo de todos nós. O papel do professor é deixar o aluno ciente de que assim como o mundo é mutável a cada segundo, tudo o mais irá acompanhar e que com sua língua mãe não será diferente. Hoje, estar na pista é muito mais que estar trabalhando na mesma ou correndo risco de atropelamento. Essa significação tão rica nos concede outras interpretações. E sem preconceito, acredito eu, na condição de profissional de Línguas, que este fenômeno nada mais é que uma das maiores confirmações de que o jovem, o funk, a favela também são geradores de cultura no que tange registro de linguagem. E o mais curioso é que visualmente isso já é notório nas obras de rua, essa ampliação da semântica de "estar na pista" já aparece na mudança das sinalizações. Na minha opinião não sei exatamente se é preconceito linguístico, talvez uma maneira de não causar ambiguidade ao receptor, mas certamente com o intuito de não se cair no aspecto pejorativo da mensagem. A conclusão que tenho é que a sinalização também acompanhou esse processo usual da Língua, mas de maneira alguma, concordo com o preconceito. O que vale mesmo é a compreensão entre o locutor e interlocutor, e cada grupo falante sabe muito bem o que seu vocabulário representa mentalmente para a interpretação de mundo. Vejam as imagens e é bem nítida essa mudança visual por conta do fenômeno da comunicação.


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